terça-feira, 20 de outubro de 2009

Quem tem mais de 60 precisa parar de trabalhar?

O Brasil com mais de 60 anos é o grupo da população que mais cresce e que, em uma década, passou a ter importante participação no mercado de trabalho. São homens e mulheres que sustentam famílias e ainda têm muito talento e energia.
Quem foi que disse que a vida fica mais calma na terceira idade? Seu Geraldo segue desafiando o tempo. Aos 73 anos, está firme no batente. Educado, com cara de bom velhinho, ele conquistou a freguesia do supermercado.
“Ele é quem leva as minhas compras em casa. Toma um cafezinho, bate um papo”, conta uma cliente.
“É bom demais”, concorda Geraldo.
A rotina faz bem. Ele acorda todo dia às 5h e trabalha seis horas por dia, de segunda a sábado.
Quem frequenta as lojas da rede de supermercado percebe que entre os funcionários tem um ou outro com uma idade mais avançada. A ideia de contratar idosos surgiu 10 anos atrás, por causa de um cliente idoso que gostava de passear todas as tardes em uma das lojas e ficava ali perguntando: "O senhor foi bem atendido? Faltou alguma coisa?"

O gerente percebeu e resolveu contratar aquele senhor. Depois de 10 anos de trabalho esse cliente que virou funcionário não está mais no supermercado, mas a ideia que ele plantou, vingou.
Quem é calouro, nesta loja, tem que passar por Dona Neuza. Ela ensina aos mais jovens a arte de conquistar o cliente.
“Eu acho maravilhoso. Eu estava falando que ela é assim bonita porque trabalha e é ela que faz a vida dela. Ela não se deixa levar pela vida. Ela que conduz a vida”, elogia a administradora de empresas Silvia Romeiro.
Seu Antônio resolver mudar de rumo, depois de dois anos de chinelo e pijama: “Nesse período, minha cabeça estava horrível, porque a pessoa se sente inútil. Na medida em que você sai para trabalhar, mesmo que você tenha problemas, os problemas você deixa em casa”.
Assim, o aposentado aborrecido virou o melhor empacotador da loja: “Ganho exatamente o mesmo salário que os meninos, nem menos, nem mais. Eu faço o que eles fazem, nada mais justo”.
A multidão de cabelos brancos ganhou muito mais. Ganhou espaço no mercado. É só olhar os números. São mais de três milhões trabalhando.
“Estamos observando isso há uns seis, sete anos. O crescimento da parcela que tem 55, 60, 65 anos e até mais no mercado de trabalho, como empregado e também trabalhando por conta própria, como empreendedor, informal, às vezes trabalhando em atividades muito simples, mas uma atividade econômica efetiva”, informa o especialista em trabalho José Pastore, de 74 anos.
Não é à toa. Dos mais de 26 milhões de brasileiros aposentados, a maioria ganha mais que um salário-mínimo. O benefício médio é de R$ 638, em valores de julho deste ano. Maior até que a média dos salários dos trabalhadores da ativa.
É dos R$ 980 da aposentadoria de Dona Palmira e de Seu Orlando que nove pessoas, entre filhos e netos, vivem em Taboão da Serra, Grande São Paulo.

“A gente estica. Compra de terceira, em vez de comprar de segunda compra de terceira. Arroz de terceira, feijão de terceira, vai comprando mais baratinho para poder comer. E muito ovo”, descreve Palmira.
Só mesmo com bom humor para enfrentar horas na máquina de costura, todos os dias. Ou puxando uma carroça pelas ruas, como Seu Orlando, de 78 anos: “Peço para Deus me ajudar e vou embora. Tem dia que ganho R$ 5, R$ 10”
Os filhos, desempregados, sofrem.
“Você não sabe como a gente fica. Às vezes eu levanto cedo e saio andando, para ver se consigo um bico aqui outro ali”, diz uma filha do casal.
“Era para eles estarem sossegados e eu ali colocando tudo dentro de casa. É o que eu mais quero”, confessa uma filha do casal, aponta Manuel Vagner de Souza Machado.
O engenheiro Luiz Antonio Fadel afirma: estar na ativa aos 63 anos, numa multinacional, é um prêmio: “É muito mais do que eu poderia ter esperado. Em 1969, quando entrei nessa companhia, com certeza”.
Os colegas, de todas as idades, apóiam.
“Eu vejo nos olhos dessa pessoa o entusiasmo, o interesse e também a capacidade de conhecimento que é muito maior que nós”, elogia a secretária Marlene Vidot.
Idoso rouba emprego do jovem?

“Essa controvérsia é superada quando você tem uma taxa de crescimento robusta, o que não tem sido o nosso caso. Nós ficamos décadas com taxas de crescimento muito acanhadas”, comenta José Partore. “Tenho 74 anos, dou palestras nos Estados Unidos, no Brasil, na Europa. Vou até onde Deus me der vontade de fazer as coisas que eu gosto e também a condição de fazer as coisas que eu gosto. Dizem que quando uma pessoa faz o que gosta, não trabalha. É o meu caso. Isso é a minha vida”.
Entre os idosos, há os que voltam ao mercado de trabalho porque querem, para manter a cabeça ocupada e continuar produzindo, e há os que voltam a trabalhar por necessidade. Só que aí eles enfrentam um problema: como tudo evolui com muita rapidez muitas vezes o conhecimento daquela pessoa com mais idade já esta ultrapassado. É necessário fazer um curso, uma atualização,
“É um pessoal que sabe o que quer, que já tem vida construída. Não quer ficar pra trás”, comenta o instrutor Ilari Kozemekinas.
Com o conhecimento, eles esperam superar barreiras e conseguir uma colocação.
“O que pega é principalmente a idade. Quando falo a minha idade, já tem esse problema de imediato”, diz um aluno do curso.
Novo emprego, novo negócio, não importa. Eles já provaram que a tal terceira idade é uma idade ativa.

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